sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Violência à distância

      Caminhar nas ruas das cidades baianas e não perceber o clima de tensão e insegurança é algo impossível. O medo de que as ondas de violência que assolam todo estado por conta paralisação dos soldados da Polícia Militar cresça é algo quase que tangível. O perigo ronda a população e a desconfiança de que mais um ato criminoso ocorra na próxima esquina perturba a todos.
     A despeito desse clima, há quem não esteja ou não pareça estar preocupado com as consequências imediatas da greve dos policiais militares na Bahia, a começar pelo representante maior do Estado Federado, V. Exa. o governador Jaques Wagner.
     Em pronúncia veiculada nas emissoras baianas, na noite desta sexta-feira (03/02), o chefe do Executivo tratou logo de ‘tranquilizar’ os cidadãos baianos, minimizando a situação de caos em que a Bahia se encontra. Mesmo a mais de seis mil quilômetros de distância, na ilha de Fidel Castro, o governador se ajeitou, cenário pronto com bandeira azul-encarnado e tudo, e fez, mais uma vez, sua propaganda. Sim: propaganda!
     Classificando as manifestações dos policiais de “atitudes condenáveis”, o Sr. Wagner, mais que tentar tranquilizar os cidadãos baianos, utilizou os poucos minutos na televisão para evidenciar seu prestígio com a “PresidentA”(isso mesmo: “PresidentA”) Dilma que liberou a Força Nacional de Segurança e gabar-se do efetivo que ainda está nas ruas, além de outros, os recém-formados, que reforçarão o quadro, em breve.
     Ao tratar o movimento dos policiais baianos como algo condenável de um “pequeno grupo irresponsável”, o governador baiano demonstra a pouca sensibilidade com o que realmente importa: o clamor de uma classe que sofre com o descaso de seus governantes; o sofrimento de famílias que se angustiam cada vez que seus entes queridos partem para mais um dia de serviço. Homens pouco preparados, mal armados, mal protegidos. Viaturas sem manutenção, sem combustível. Não há algo mais condenável que virar as costas àqueles que dão suas vidas pelo bem da população, apesar de todas as limitações.
     Dizer que os policiais que aderiram à greve são um “pequeno grupo irresponsável” dá a medida exata como a Polícia Militar da Bahia é tratada pelo Governo: um grupo pequeno, desprezível, irrelevante. O que aos olhos do Chefe baiano – que anda cercado de benesses por todos os lados – não passa de irresponsabilidade, pode e deve ser entendida como a única forma que a classe de militares encontrou de ser ouvida. Coragem, ousadia, desespero... não importa. Estão acostumados a enfrentar os perigos das ruas. Já entregaram suas vidas quando se apossaram dos seus uniformes. Assim como nas Escrituras, já negaram-se a si mesmos, tomaram sua cruz (que refere-se à morte), e seguem para mais um expediente de incertezas.
     As ameaças não ficaram fora do pronunciamento feito de Cuba para toda Bahia. Ao dizer que a Justiça havia decretado a ilegalidade da greve e que já havia mandados de prisão expedidos contra os líderes do movimento, o governador deixou claro que sabe como ‘debelar’ o movimento: aterrorizar para desestabilizar; amedrontar para enfraquecer. Uma violência que partira da ilha caribenha, mas com endereço certo: as mentes pensantes da briosa Polícia Militar, bem como todos que, mesmo cansados de tanta indiferença, não se rendem aos opressores. Avante! “centenária milícia de bravos, altaneira na fé e no ideal”.