Por Walter Williams
De
acordo com um artigo no site American Dream, intitulado "Al Gore,
Agenda 21 and Population Control [Al Gore, Agenda 21 e o Controle
Populacional], há gente demais habitando o planeta Terra, e isso está
gerando impactos negativos sobre todos nós. A solução? Reduzir a
população. É o que eles próprios defendem abertamente, como será
mostrado mais abaixo.
Agenda
21 é um abrangente plano de ação a ser empreendido globalmente,
nacionalmente e localmente por organizações pertencentes ao Sistema das
Nações Unidas, pelos Governos e pelos Grandes Grupos em toda e qualquer
área em que o ser humano impacta o ambiente.
Se
tal objetivo globalista ainda parece muito abstrato, veja o que disse o
Fundo de População das Nações Unidas em seu "Relatório sobre a Situação
da População Mundial 2009" intitulado Enfrentando um Mundo em
Transição: Mulheres, População e Clima:
Cada
nascimento resulta não só nas emissões atribuíveis àquela pessoa ao
longo de sua vida, mas também nas emissões de todos os seus
descendentes. Assim, a economia de emissões decorrente de nascimentos
pretendidos ou planejados se multiplica com o tempo. [...] Nenhum ser
humano é genuinamente "neutro em carbono", principalmente quando todos
os gases de efeito estufa são levados em conta na equação. Portanto,
todas as pessoas são parte do problema, logo todos precisam participar
da solução de um modo ou de outro. [...] Programas de planejamento
familiar de qualidade são do interesse de todos os países no que se
refere às preocupações sobre gases de efeito estufa, bem como às
preocupações de bem-estar mais amplas.
O The New York Times concorda. Em
um artigo intitulado "The Earth is Full" [A Terra Está Lotada], de
2008, o colunista Thomas Friedman diz que "O crescimento populacional e o
aquecimento global pressionam os preços dos alimentos, o que gera
instabilidade política, o que leva ao encarecimento do petróleo, o que
leva a novos aumentos dos preços dos alimentos, e assim reiniciando o
círculo vicioso."
Já
um professor de biologia da Universidade de Austin, Texas, chamado Eric
R. Pianka, em um artigo intitulado "What Nobody Wants to Hear, but
Everyone Needs to Know" [O que Ninguém Quer Ouvir, Mas Todos Precisam
Saber], escreveu que "Não desejo nenhum mal ao ser humano. No entanto,
estou convencido de que o mundo, incluindo toda a humanidade, estaria
muito melhor sem vários de nós."
O
principal problema, só para começar, é que não há absolutamente nenhuma
relação entre um grande número populacional, desastres ambientais e
pobreza. Os entusiastas das políticas de controle populacional devem
considerar a República Democrática do Congo e suas míseras 29 pessoas
por quilômetro quadrado como sendo o ideal ao passo que Hong Kong e suas
2.510 pessoas por quilômetro quadrado devem ser um pesadelo.
No
entanto, os cidadãos de Hong Kong usufruem uma renda per capita de US$
52.000, ao passo que os cidadãos da República Democrática do Congo, um
dos países mais pobres do mundo, sofrem com uma renda per capita de US$
648. E isso não é uma anomalia. Alguns dos países mais pobres do mundo
são aqueles que têm as menores densidades populacionais.
O
fato é que o Planeta Terra está repleto de espaço livre, e a esmagadora
maioria está desabitada. Se colocássemos toda a população da terra nos
Estados Unidos, teríamos uma densidade de 662 pessoas por quilômetros
quadrado. Tal densidade é bem menor do que a vigente nas principais
cidades americanas. Se toda a população americana vivesse no estado do
Texas, cada família formada por quatro pessoas usufruiria mais de 2,1
acres de terra (8.500 metros quadrados). Igualmente, se toda a população
da terra se movesse para os estados do Texas, Califórnia, Colorado e
Pensilvânia, cada família de quatro pessoas usufruiria um pouco mais de 2
acres. [No
Brasil, apenas 0,2% do território está ocupado por cidades e
infraestrutura. E se toda a população mundial fosse para o estado do
Amazonas, a densidade populacional seria equivalente à da cidade de
Curitiba].
É
óbvio que ninguém está sugerindo que toda a população do planeta seja
colocada nos EUA, e nem que toda a população dos EUA seja colocada no
Texas. Cito essas figuras apenas para colocar as coisas em perspectiva.
Vejamos
outras evidências sobre densidade populacional. Antes do colapso a
União Soviética, a Alemanha Ocidental tinha uma densidade populacional
maior do que a da Alemanha Oriental. O mesmo vale para a Coréia do Sul
em relação à Coréia do Norte; para Taiwan, Hong Kong e Cingapura em
relação à China; para os Estados Unidos em relação à União Soviética; e
para o Japão em relação à Índia. No entanto, embora fossem mais
povoados, Alemanha Ocidental, Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong,
Cingapura, Estados Unidos e Japão vivenciaram um crescimento econômico
muito mais alto, um padrão de vida muito superior, e um acesso a
recursos naturais de qualidade de forma muito mais plena e acessível do
que a população daqueles países de menor densidade populacional.
Aliás, Hong Kong praticamente não tem um setor agrícola, mas sua população come muito bem.
É
de se imaginar por que ainda há pessoas que dão ouvidos a
catastrofistas que sempre se mostraram consistentemente errados em suas
previsões — e não erraram por pouco, mas fragorosamente.
O
professor Paul Ehrlich, biólogo da Universidade de Stanford, em seu
best-seller de 1968, The Population Bomb [A Bomba Populacional] previu
que haveria uma enorme escassez de comida nos EUA e que "já na década de
1970 ... centenas de milhões de pessoas irão morrer de fome neste
país". Ehrlich previu que, entre 1980 e 1989, 65 milhões de americanos
literalmente morreriam de fome, e que, até 1999, a população americana
encolheria 22,6 milhões de habitantes.
Sua
previsão para a Inglaterra era ainda mais desesperadora: "Se eu fosse
um apostador, apostaria uma quantia substancial de dinheiro que a
Inglaterra deixará de existir até o ano 2000".
No
primeiro Dia da Terra, celebrado em 1970, Ehrlich alertou: "Dentro de
dez anos, todas as mais importantes vidas animais nos oceanos estarão
extintas. Grandes áreas costeiras terão de ser evacuadas por causa do
fedor de peixe morto". Apesar de todo este notável currículo, Ehrlich
continua até hoje sendo um dos favoritos da mídia e do mundo acadêmico.
Em
grande medida, a pobreza nos países subdesenvolvidos pode ser
diretamente atribuída ao fato de que seus líderes seguiram os conselhos
de "especialistas" ocidentais. O economista sueco e Prêmio Nobel Gunnar
Myrdal disse,
em 1956, que "Os conselheiros para assuntos especiais dos países
subdesenvolvidos, que se dedicaram a estudar e entender os problemas
desses países ... todos recomendam o planejamento centralizado como a
condição precípua para o progresso".
Em
1957, o economista Paul A. Baran, da Universidade de Stanford,
aconselhou que "A implantação de uma economia socialista planejada é uma
condição essencial — na verdade, indispensável — para se alcançar o
progresso econômico e social nos países subdesenvolvidos."
Para
coroar essa série de maus conselhos, os países subdesenvolvidos
enviaram seus melhores alunos para estudar economia em Berkely, Harvard,
Yale e na London School of Economics, onde aprenderam tolices
socialistas sobre crescimento econômico. Na melhor das hipóteses, as
teorias ensinadas não passavam de um emaranhado de lugares comuns.
Por
exemplo, o economista e Prêmio Nobel Paul Samuelson os ensinou que os
países subdesenvolvidos "não conseguem emergir sua cabeça de debaixo
d'água porque sua produção é tão baixa que eles não conseguem poupar
nada para formar capital". Um raciocínio totalmente circular. Já o
economista Ranger Nurkse é ainda mais profundo: segundo ele, a causa
básica do subdesenvolvimento dos países pobres é "o círculo vicioso da
pobreza". Ou seja, um país é pobre porque ele é pobre.
Desnecessário
dizer que tais constatações profundas são, por si mesmas, absurdas. Se
elas tivessem a mais mínima validade, toda a humanidade ainda estaria
até hoje morando nas cavernas — afinal, dado que toda a humanidade já
foi miserável em uma época, dado que a pobreza é algo da qual não se
escapa, é impossível ter havido enriquecimento. Por essa lógica, podemos
concluir que estamos vivendo uma mera fantasia de riqueza. Continuamos,
na realidade, tão pobres quanto na época em que vivíamos nas cavernas.
Os
entusiastas do controle populacional têm uma visão malthusiana do
mundo, a qual vê o ritmo do crescimento populacional superando o ritmo
da criação de meios para que as pessoas se sustentem. No entanto, a
própria genialidade da humanidade já mostrou que os malthusianos estavam
completamente equivocados. O homem consegue hoje cultivar volumes cada
vez maiores de alimentos em espaços de terra cada vez menores.
Igualmente, a energia utilizada para produzir comida, em termos de
dólares por PIB, está em contínuo declínio. Estamos conseguindo mais com
menos, e isso se aplica à maioria dos outros insumos utilizados na
produção de bens e serviços.
Pense
na seguinte questão: por que a humanidade de hoje usufrui telefones
celulares, computadores e aviões, mas não usufruía na época de Luis XIV?
Todos os recursos físicos necessários para a fabricação de celulares,
computadores e aviões já existiam àquela época. Aliás, já existiam
quando o homem das cavernas habitava a terra.
Há
apenas uma explicação do motivo de usufruirmos essas benesses hoje mas
não em épocas passadas: o aumento do conhecimento e da criatividade
humana, bem como a especialização, a divisão do trabalho e o comércio —
tudo isso em conjunto com a liberdade individual e a propriedade
privada. Foi isso o que levou à industrialização e à melhoria do nosso
padrão de vida.
Em outras palavras, os seres humanos são recursos imensamente valiosos.
Aqueles
que se preocupam com um fictício superpovoamento do planeta tendem a
ver os seres humanos como nada mais do que meros consumidores de
recursos. A lógica é simples: os recursos são finitos; os seres humanos
consomem recursos. Logo, menos seres humanos significa mais recursos
disponíveis. Esse é o cerne de todas as ideias contrárias à expansão
populacional.
Porém,
embora as premissas desse silogismo sejam verdadeiras, elas são
calamitosamente incompletas, fazendo com que a conclusão seja igualmente
(e perigosamente) incorreta.
Em
primeiro lugar, os seres humanos não são apenas consumidores. Cada
consumidor é também um produtor. Por exemplo, eu só consigo almoçar
(consumir) porque produzi (trabalhei) e alguém me remunerou por isso. E
foi justamente essa nossa contínua produção o que aprimorou sobremaneira
o nosso padrão de vida desde o nosso surgimento até a época atual.
Todos os luxos que usufruímos, todas as grandes invenções que melhoraram
nossas vidas, todas as modernas conveniências que nos atendem, e todos
os tipos de lazer que nos fazem relaxar foram produzidas por uma mente
humana.
Logo,
a conclusão óbvia é que, quanto mais mentes existirem, mais inovações
surgirão para melhorar nossas vidas. Uma simples reductio ad absurdum
revela a óbvia verdade de que a cura para o câncer tem mais chances de
ser descoberta em uma sociedade com um bilhão de pessoas do que em uma
com apenas um punhado de indivíduos.
Ainda
mais importante é o fato de que essas inovações resultam em uma
multiplicação de recursos, de modo que o silogismo sofre uma importante
alteração: os recursos são finitos; os seres humanos consomem recursos;
os seres humanos produzem recursos; logo, se os seres humanos produzirem
mais recursos do que consomem, um aumento populacional será benéfico
para a nossa espécie.
Que
nós produzimos mais do que consumimos é um fato autoevidente: basta
olharmos para o padrão de vida que usufruímos hoje e compará-lo àquele
que tínhamos há 50, 100 ou 1.000 anos. À medida que a população
aumentou, aumentou também a nossa prosperidade, e a redução no
sofrimento humano foi impressionante.
Aquilo
que hoje é rotulado como "consequência do excesso de gente no planeta" é
o mero resultado de políticas governamentais socialistas que reduziram a
capacidade das pessoas de se educaram, se alimentarem, se vestirem, e
se abrigarem das intempéries. Pode observar: todos os países
subdesenvolvidos sofrem com tarifas protecionistas que restringem as
importações, moeda fraca (que gera inflação de preços e impede a
obtenção de produtos importados de maior qualidade), regulamentações
sobre as práticas agrícolas, políticas de controles de preços para
alimentos, burocracias que atrapalham o livre empreendedorismo e,
principalmente, falta de segurança e brutais violações dos direitos
humanos, o que faz com que os mais capazes e mais produtivos emigrem e
deixem para trás justamente os menos produtivos.
A
verdadeira lição antipobreza para os países pobres é que o caminho
mais promissor e seguro para se sair da pobreza e gerar mais riqueza é a
liberdade individual, o livre comércio, uma moeda forte, o respeito à
propriedade privada e, acima de tudo, um governo limitado.
Walter Williams é
professor honorário de economia da George Mason University e autor de
sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais
americanos.
Tradução de Leandro Roque
Divulgação: www.juliosevero.com
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